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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

UÉ, O ESTADO NÃO É LAICO?

Nas vésperas do prefeito do município do Rio de Janeiro, Sr. Eduardo Paes, terminar seu mandato, ele expede um decreto-lei declarando a umbanda como patrimônio imaterial da cidade. Isto tudo ocorreu logo após o término das eleições cujo destaque foi justamente a religião, já que todos os candidatos que concorreram com o prefeito eleito, Senador Crivella, disparavam discursos preconceituosos questionando sua honestidade e capacidade de governar, já que teria sido bispo da Igreja Universal (igreja evangélica). Esta é mais uma prova de que o estado não é e nunca foi laico. 

Declarar uma religião como patrimônio de uma cidade não faz o menor sentido, pois em contrapartida isto importa em dizer que as demais religiões não são patrimônios da cidade. Ou será que são? Outra pergunta a se fazer seria se cidade tem que ter religião? Parece-me que não, já que isto é um atributo perseguido apenas pelas pessoas naturais, o ser humano, a fim de alcançar uma paz interior. 

Mas isto tudo deixou muito claro uma coisa, o preconceito contra o evangélico na sociedade. Provavelmente se o Senador Crivella fizer algo similar e declarar o cristianismo/protestante como patrimônio cultural da cidade será execrado pela população, simplesmente por ser cristão/evangélico, mas enquanto isso, se outros propuserem mais um feriado católico, umbandista ou espiritista, esse não será criticado, tanto é que o atual prefeito não foi criticado pela mídia nem por nenhum movimento social pelo decreto acima mencionado. Para mim está claro a intolerância contra os cristãos/evangélicos, assim como foi na época de Jesus ainda é hoje.

A partir do momento que o Estado é administrado por pessoas, é fantasioso se pensar na existência de um estado laico, uma vez que todas as experiências do governante sempre se exteriorizam na sua vida pública, inclusive os dogmas religiosos. 

Não existe pessoa laica, sem religião, pois a fé sempre é exteriorizada, seja no cristianismo, seja na umbanda, seja na coletividade, seja no seu próprio ego - onde sua fé se sustenta em si próprio. Se o Estado fosse laico não teríamos dezenas de feriados de origem católica, muito menos a maioria das igrejas católicas teria sido financiada com o dinheiro público, seja cedendo o terreno ou pagando a obra da igreja. Agora, pensar que por ser um candidato um pastor/padre/pai de santo o impede de ser um bom governante não somente soa como ato preconceituoso como também demonstra a incapacidade de analisar as qualidades que um governante deveria ter.

Pierre Lourenço. Advogado.

Matéria - Globo.com

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